terça-feira, janeiro 20

Verdade

Se eu fosse escolher uma cor para a morte, eu escolheria o amarelo. Não devo ter motivo nenhum pra essa cor e o mais próximo de um motivo que eu poderia escrever é que eu não gosto dessa cor, tenho nojo do amarelo e como a minha própria teoria diz, já basta o sol ser amarelo e brilhar todo dia. Não preciso me vestir dessa cor e não preciso gostar dela por isso.
E a relação do amarelo com a morte? Bom, pelo menos pra mim ela é simples porque assim como eu não gosto quando vejo o sol amarelo todo dia, não gosto de ver as pessoas morrendo todos os dias e principalmente odeio quando de vez em quando o amarelo forte da morte bate perto do meu peito tirando alguém importante de mim pra sempre.
Tudo nessa vida tem uma relação com as cores, tudo que vejo nesse mundo tem a ver com as cores e me vejo de uma forma diferente do que os outros pensam, não vou padronizado dizendo que o vermelho é a cor do amor e o branco a cor da paz porque pra mim não é assim. A cor mais próxima do amor que posso encontrar é o preto e – não se surpreenda! – é minha cor preferida, é a cor que acompanho todo dia em pelo menos uma parte do meu vestuário – mesmo que a cor da cueca, carteira, cinto. Mas o preto está sempre lá, marcando presença nas horas mais importantes e tristes da vida; talvez não seja somente a cor do amor e sim a cor da presença, da onipotência.
As cores da competência me fazem pensar e me fazem refletir mais uma vez que tudo o que sinto têm relação ao humor, a criação que tive desde criança e às proibições que sempre tentaram me fazer seguir. Na verdade, acho que tem gente que tem que se tocar que a coisa não funciona assim e que desde criança temos a curiosidade de descobrir o proibido e, na falta que vocês me fizeram me proibindo de gostar de qualquer coisa relacionada ao coibido, descobri por conta própria e agora já acho inevitável a conversão do que eu fui um dia antes, do que eu fui dez anos atrás. O garotinho de vocês morre aqui, nesse texto, falando as coisas mais banais que existem e fazendo as cores da natureza darem sentido e sentimento a vida.
Não sei como voltar e não me interesso a voltar, mas eu sei que, se eu tentar, o único lugar que vou chegar vai ser em um deserto perdido dentro da minha própria cabeça que não vai me dar resposta nenhuma que eu busco; não vou deixar pra depois, não vou mais desistir de querer que minha vontade faça sentido e dê vivacidade a minha vida. Não é pela primeira vez que eu descubro isso, mas é a primeira vez que eu assumo que estou tão decidido quanto nunca na minha decisão e que ela vai ser a única que vai me fazer feliz – vai fazer feliz, no meio do turbilhão de brigas e emoções que virão por causa dela. Sabe, eu realmente me importo e realmente sinto medo do que vai acontecer comigo por causa das minhas decisões, mas mais forte do que meu medo é a minha vontade de ser feliz com minhas cores e minha vontade de jogar tudo pro alto pra provar pra mim mesmo que posso ser feliz com o inusitado que poucas pessoas escolhem.
O sono vai me envolver e vai me dar a leve impressão de que tudo vai começar novamente, me fazendo acordar e esquecer o que sonhei só para eu não me preocupar e não confundir a vida que eu vivo com a que vivo no sonho; parece real, parece gostoso. E é inevitável não sonhar e por isso eu me rendi aos próprios encantos da vida, me rendi a viver em cláusulas e a partir desse momento vou me segurar e vou fazer o necessário pra pensar menos nos outros e mais em mim.
O meu momento vai chegar, o amarelo um dia vai chegar à minha vida da forma mais inusitada possível e isso eu não posso evitar; a única coisa que vou fazer antes disso é me certificar de que tudo o que eu vivi teve um sentido único e transversal na minha vida, que me fez ver que tudo o que eu vivi até aquele momento valeu a pena e que eu passaria pelo sufoco e pelas brigas da vida novamente só pra ver o sorriso de quem eu amo, o sucesso da minha carreira, o meu livro pronto e com sucesso – porque esse é o sonho da minha vida – e todas as felicidades que eu sei que eu posso buscar se eu for atrás do meu sonho.
Sou novo ainda, não fiz nem vinte anos ainda, mas eu me sinto como se eu fosse dono das minhas próprias atitudes e – embora muita gente possa dizer que o que eu sinto faz parte da minha idade, do crescimento dos meus hormônios e do ‘tesão’ por tudo, eu não vejo isso.
Quer dizer, até vejo; eu vejo que estou em fase de crescimento e que meus hormônios tomam e dominam a minha cabeça, mas ao mesmo tempo eu vejo que ainda tenho cabeça o suficiente pra tomar conta dos hormônios e decidir quando usá-los e, melhor, se vou realmente usá-los.
Meu Deus existe em algum lugar, mas não é o Deus crítico que todos olham por aí; não acredito em bíblia, não acredito em doutrina religiosa e não acredito que o mundo vai acabar um dia porque o ‘apocalipse’ ou sei lá o que vai dominar. Eu rio com essas idéias e rio ainda mais por terem pessoas que acreditam na palavra que homens escreveram. Os homens não sabem nem o que vão comer no dia seguinte; o que os fazem pensar que podem definir o fim do mundo?
É a confusão da mente e tudo que me faz querer reavaliar o mundo da forma que eu quero que ele seja, vou fazer o mundo pensar mais em mim e não vou mais fugir dele porque não sou nenhuma vergonha e, caso o mundo sinta vergonha de mim, ele que fuja. Que fuja de todo o sentimento que tenho a respeito dele e de todas as pessoas que estão ao meu redor; cansei de viver um faz de contas.
A vida está começando, sou a principal personagem.
E pela primeira vez não sinto medo disso!

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