segunda-feira, abril 20

imp[L]osição


Dei-me conta que sou o espetáculo, a platéia e os próprios fãs.

Percebi que as pessoas mais distraídas da platéia só visualizam meu espetáculo pelos contornos externos.

Espantei-me ao assoprar e ver que meia dúzia de inquilinos permaneceu no mesmo lugar, esperando pela maior das ventanias pra passar tudo comigo.

Vi seu cabelo balançar.

Adorei a idéia de poder usá-lo como escudo e saber que ele o faria com o maior prazer.

Excitei-me com a idéia de que isso era recíproco.

Perguntei-lhe porque essa mania louca de se identificar com aquilo que é perigoso.

Arrependi-me instantaneamente e pedi perdão; implorei para que ele não desse a resposta e ele pareceu entender o meu apelo.

Pude sentir de longe o gosto da tangerina, o sabor da fruta podre, proibida e tão parecida com aquilo que outrora me identifiquei, alegando que o mesmo era parecido com a minha bendita tangerina em todos os aspectos. Meu objeto identificável era saboroso e a partir do momento em que inspirei o seu mais doce aroma – mesmo sem tocá-lo internamente – senti que minha cabeça delirava, meus olhos reviravam e minha vontade pelos toques íntimos de seu lábio carnudo e suculento implodiu.

Agora vejo como minha obrigação acordar e minha sina se transformou num oceano aberto a novas descobertas.

Minha orientação simplesmente se estreitou no objetivo ‘não-tão-mais-secreto’ de olhar da forma mais selvagem nos seus olhos e arrancar deles tudo aquilo que você arrancou de mim tão linda e brutalmente.

sábado, abril 18

Eu simplesmente não sei mais no que pensar. Passei a acreditar de que eu não sentia mais nada pelo 'passado', mas o passado ainda se faz presente quando o vejo preso em uma jaula que eu mesmo criei; isso me tira a compreensão, me faz pensar que não sou eu quem está no controle e sim ele, mesmo dentro daquela cláusula perdida.
Eu mudei muito, eu não morro mais de paixão por alguém que nunca se importou comigo; eu cresci, fui obrigado a fazer coisas que eu hoje me arrependo - não pela falta de contato e sim porque acho que fui meio ridículo em certos aspectos. Quis mostrar superioridade mas apenas mostrei sentimentos egoístas. Hoje eu me olhei no espelho, tirei fotos e simplesmente descobri que eu não estava do jeito que eu julgava estar. Meu olho se entristeceu e utilizou de um charme místico que até eu mesmo me encantei; li textos antigos, textos que eu deveria ter mandado para a pessoa que eu não demorei a me apaixonar mas que demorei a desapegar. Fiquei com ódio, era tudo tão limpo, lindo e aceitável; era uma paixão tão pura, tão inocente e vazia de qualquer sentimento escrupuloso que nem eu mesmo pude acreditar; depois do ódio, me vi feliz - não por ter me apaixonado - e sim por ter escrito coisas que eu queria que me fossem escritas. Hoje eu estou bem, mas quando fui cavar por essas besteiras bateu um desespero interno que pulou desesperadamente na primeira oportunidade.
Há outra pessoa que anda me encantando, mas o medo do erro me consome mais do que a vontade de que tudo dê certo; sou pessimista, isso é ridículo. Eu não deveria fazer as coisas assim, é praticamente dar atestado de óbito antes mesmo de se ter um falecido. São apenas experiências que não foram bem vividas, são histórias que eu mesmo não quis participar.
São coisas que, sei lá, a vida exprime como se fossem uma laranja onde o bagaço é simplesmente o começo da vida.
Eu não me cansei... simplesmente acho que estou limpo de qualquer coisa que tenha passado por mim antes; não sinto ódio dele, mas também não sinto amores. Sinto-o como se ele fosse alguém normal, como se eu sinceramente não o conhecesse. Não consigo - por mais que eu tente - sentir qualquer traço de afinidade. Nem ao menos consigo sentir desprezo!
... só preciso descobrir se isso mudaria se eu tomasse alguma outra atitude.