Dei-me conta que sou o espetáculo, a platéia e os próprios fãs.
Percebi que as pessoas mais distraídas da platéia só visualizam meu espetáculo pelos contornos externos.
Espantei-me ao assoprar e ver que meia dúzia de inquilinos permaneceu no mesmo lugar, esperando pela maior das ventanias pra passar tudo comigo.
Vi seu cabelo balançar.
Adorei a idéia de poder usá-lo como escudo e saber que ele o faria com o maior prazer.
Excitei-me com a idéia de que isso era recíproco.
Perguntei-lhe porque essa mania louca de se identificar com aquilo que é perigoso.
Arrependi-me instantaneamente e pedi perdão; implorei para que ele não desse a resposta e ele pareceu entender o meu apelo.
Pude sentir de longe o gosto da tangerina, o sabor da fruta podre, proibida e tão parecida com aquilo que outrora me identifiquei, alegando que o mesmo era parecido com a minha bendita tangerina em todos os aspectos. Meu objeto identificável era saboroso e a partir do momento em que inspirei o seu mais doce aroma – mesmo sem tocá-lo internamente – senti que minha cabeça delirava, meus olhos reviravam e minha vontade pelos toques íntimos de seu lábio carnudo e suculento implodiu.
Agora vejo como minha obrigação acordar e minha sina se transformou num oceano aberto a novas descobertas.
Minha orientação simplesmente se estreitou no objetivo ‘não-tão-mais-secreto’ de olhar da forma mais selvagem nos seus olhos e arrancar deles tudo aquilo que você arrancou de mim tão linda e brutalmente.